Mestrado em Gestão e Conservação da Natureza

... sobre o território comum, olhar a realidade de forma integral e de modo científico

Job Moniz da Silva Culo

Impacto de uma intervenção educativa sobre resíduos sólidos urbanos no município do Namibe: Contributos para a elaboração de um modelo de educação ambiental

Orientadores:
  • Rosalina Gabriel
  • Ana M. Arroz

  • Resumo

    A produção de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) é uma consequência inevitável da forma como o Homem se tem relacionado com a natureza. Todavia o maior ou menor grau de poluição por eles originados, deve-se sobretudo a deficiência da sua gestão, o que sucede em muitas comunidades, nomeadamente aquelas onde pretendemos intervir. De facto, a falta de sensibilização, planeamento, gestão e intervenção são preocupantes no município do Namibe, uma zona com características desérticas, situada no sudoeste de Angola. A educação dos jovens é um dos primeiros passos para a sensibilização da população, já que estes podem intervir para promover o bem-estar das comunidades e auxiliar na mitigação do problema. Sendo assim, os objectivos deste trabalho incluem: (1) a realização de intervenções de Educação Ambiental no âmbito dos Resíduos Sólidos Urbanos que permitam enriquecer, simultaneamente, o currículo escolar com a exploração de temas transversais e promover uma cidadania ativa junto de 70 alunos da 7ª classe do I Ciclo do Ensino Secundário em duas escolas da cidade do Namibe (Escola 1º de Maio e Escola São João Paulo II), bem como junto dos seus pais e encarregados de educação; (2) a avaliação dos resultados e dos impactos dessa intervenção educativa; e (3) conceber um modelo de promoção de Educação Ambiental na Escola para o Município do Namibe, promovendo o interesse e participação das comunidades em acções concretas. A metodologia utilizada incluiu uma avaliação diagnóstica (inquéritos por questionário em Março de 2015), a intervenção educativa propriamente dita, teve a duração de oito meses (32 h de aulas teóricas e 48 h de trabalhos nos jardins, sanidade da escola, uso racional da água, deposição e recolha dos resíduos) e finalmente uma recolha de dados finais (inquérito por questionário em Abril de 2016). Além dos questionários foram ainda obtidos desenhos sobre o ambiente e foi feita uma avaliação de comportamentos, como a recolha de pilhas usadas. Os pais e encarregados de educação (PEE) também foram inquiridos, no final da intervenção. Os resultados mostram que as crianças têm perspectivas mais negativas de ambiente do que os seus PEE, valorizando mais os resíduos e a higiene. Todos reconhecem a existência de um problema ambiental relacionado com os resíduos sólidos no bairro Forte de Santa Rita, onde residem. A maioria das crianças afirma caminhar em média 20 minutos para se descartar dos resíduos sólidos produzidos pela família, embora os PEE estimem valores ainda mais elevados. As crianças envolveram-se seriamente no concurso “Vamos separar pilhas”, coligindo centenas de pilhas junto dos seus agregados familiares e amigos. As crianças defendem a separação de RSU sobretudo para poder viver num local organizado e limpo, evitar doenças e para melhoria do ambiente. As crianças responsabilizavam sobretudo a Administração Comunal e a Administração Municipal pela correcta gestão dos RSU, mas após a intervenção educativa essa responsabilidade passou a ser assumida por “todos”, opinião partilhada pelos PEE. Também após a intervenção, a maioria das crianças acha possível acabar com as lixeiras no município do Namibe, o que não acontecia antes. A avaliação desta intervenção educativa possibilitou maior sensibilização e informação dos alunos e seus pais (como previsto), sensibilização dos professores e corpos gerentes das escolas (efeito adicional) e também estimulou a recolha e separação de pilhas. Esta atividade enriqueceu o currículo escolar, produziu alterações nos conhecimentos e opiniões dos alunos e sensibilizou os seus pais e encarregados de educação, bem como os professores. Os alunos e os seus PEE atribuem grande importância à disciplina de Educação Ambiental, porque educa o homem a gostar e cuidar do ambiente, com vista à sua preservação e ao desenvolvimento da qualidade de vida, maior organização e salubridade no município. Por outro lado, a existência da disciplina de Educação Ambiental é valorizada porque tem como objectivo ensinar a conhecer mais o ambiente, ser higiénico, preparar o futuro, não permitindo que esta geração cometa os mesmos erros que a do passado o que ajudará o homem a viver num clima apropriado com água à disposição e boa alimentação. Em função da relevância atribuída à disciplina de Educação Ambiental e dos resultados obtidos neste estudo é suportado um modelo interdisciplinar para a sua lecionação, em vez do actual modelo multidisciplinar. As mudanças de atitudes por parte dos alunos, pais e encarregados de educação, bem como dos professores devem ser trabalhadas nas famílias, escolas e outros sectores da sociedade. O Governo deve evidenciar mais esforços no sentido de minimizar os problemas na gestão do tratamento dos Resíduos Sólidos Urbanos, bem como na conservação e preservação do meio ambiente para permitir que as escolas e cidades tenham um saneamento básico regular.

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