Maria Cristina da Silva Ribeiro Marinho
Desperdício de produtos hortofrutícolas percebido por famílias de uma freguesia citadina nos Açores
Desperdício de produtos hortofrutícolas percebido por famílias de uma freguesia citadina nos Açores
Orientadores:
Resumo
Cerca de metade da comida produzida em todo o mundo vai para o lixo. Muitos fatores contribuem para o desperdício, envolvendo aspetos da cadeia de produção tão diversos quanto os modelos intensivos de produção adotados, as condições inadequadas de armazenamento e transporte ou até as promoções que encorajam os consumidores a comprar em excesso. Nos últimos tempos têm surgido vários estudos relacionados com o desperdício alimentar, reconhecendo-o como um caso bem ilustrativo de insustentabilidade, pelas significativas consequências sociais, ambientais e económicas que comporta. Várias facetas do problema estão relacionadas com as escolhas e comportamentos dos consumidores, não só pelas quantidades que compram ou pelas estratégias de conservação que utilizam, mas também pelos critérios de consumo que orientam as suas compras.
Em que medida o aspeto, a cor e o formato da fruta e dos legumes serão mais ou menos determinantes na escolha dos frescos do que outras questões como a imoralidade da fome e ética do mercado, a insustentabilidade ambiental ou a proteção do mercado regional, por exemplo? Perceber em que medida os terceirenses estarão despertos para esta problemática levou à realização de um inquérito, por questionário hétero-administrado, que visa caracterizar as perspetivas de 200 famílias da freguesia de Santa Luzia (Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores) acerca da dimensão do desperdício de produtos hortofrutícolas no mundo e as representações que fazem das suas práticas de consumo e de desperdício. Pretendeu-se que os resultados deste estudo permitissem perceber o grau de consciencialização das pessoas relativamente a este fenómeno e identificar os motivos que lhe subjazem, podendo contribuir para fundamentar a conceção de programas de intervenção que visem reduzir o desperdício alimentar. Daí que se tenha dado uma ênfase particular à exploração da recetividade dos inquiridos a produtos que, mantendo a qualidade nutricional, não pertencem à norma elitista dos mais perfeitos, belos e viçosos exemplares.
De acordo com os resultados, as perspetivas dos consumidores sobre a escala do que é desperdiçado e o destino dado a esses produtos fora de formato correspondem, genericamente, aos contornos reais do problema, mostrando que se encontram satisfatoriamente informados. A representação que fazem das suas práticas de consumo e dos critérios que as suportam, bem como a recetividade que manifestam à compra e ingestão de produtos manchados, retorcidos e feios foram superiores ao esperado. Tais resultados indiciam por parte dos inquiridos uma atitude favorável a medidas de mitigação do desperdício alimentar, tais como, a adesão a mercados solidários em que estes produtos são disponibilizados a menores preços, levando a propor o alargamento à Ilha Terceira de projetos como o da Fruta Feia.
Contudo, de acordo com a caraterização que fazem das suas práticas de conservação e de reaproveitamento de hortofrutícolas, perspetiva-se uma área lacunar que beneficiaria da disponibilização de ações de formação e de outras estratégias de informação que ajudassem os cidadãos e diminuir o desperdício de frutas e legumes nas suas casas.
São discutidas implicações dos resultados para programas de sensibilização e consciencialização para implementar junto da população.