Orlando Manuel Labrusco Félix Guerreiro
Contribution to the management of the drywood termite Cryptotermes brevis in the Azorean Archipelago
Orientadores:
João Miguel Tavarela FerreiraPaulo A.V. Borges
Resumo
A dispersão de espécies exóticas e invasoras é actualmente um emergente e importante
campo de investigação, nomeadamente através do uso de ferramentas computacionais. A
grande maioria destes estudos considera a dispersão de espécies invasoras no ambiente
natural enquanto esta tese investiga a dispersão de uma espécie exótica em ambiente
urbano. No arquipélago dos Açores, este ambiente é significativamente infestado com a
espécie exótica Cryptotermes brevis que tem causado graves danos económicos e
patrimoniais.
Este trabalho ambiciona providenciar informação cientificamente fundamentada para
entender o potencial de distribuição da espécie exótica Cryptotermes brevis no arquipélago
dos Açores à escala local e regional. Ã escala local procurou-se determinar a capacidade de
voo no ambiente urbano específico de Angra do Heroísmo e utilizar esta importante
informação para construir um modelo de Autómatos Celulares (CA) para reproduzir e prever
a dispersão da espécie espacialmente ao longo do tempo. Ao nível regional, ambicionamos
a construção de um mapa com os potenciais locais de ocorrência da espécie em foco, para
cada ilha. Estas duas abordagens procuram ser importantes ferramentas para as
autoridades locais poderem realizar uma gestão eficaz para o controlo da praga provocada
por este insecto.
Os métodos utilizados na pesquisa de campo foram as entrevistas porta a porta, entrevistas
às companhias de controlo de pragas e à Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, e
aplicação de armadilhas luminosas na periferia da área da cidade afectada pela praga. As
armadilhas foram colocadas a várias distâncias de casas e ruas, onde era já sabido a
presença da espécie, permitindo assim estimar um valor provável de distância de voo e
possível fundação de novas colónias. Desta forma foi possível calibrar um importante
parâmetro do modelo de autómatos celulares desenvolvido para reproduzir, tanto quanto
possível, o padrão de dispersão da cidade de Angra do Heroísmo.
Foi utilizado um modelo ecológico, que utiliza a máxima entropia, para determinar o
potencial de ocorrência da espécie em cada ilha do arquipélago. Foram realizadas diversas
simulações utilizando diferentes grupos de variáveis ambientais e dois grupos de
amostragem de presenças da espécie C. brevis. Diferentes cenários foram realizados
utilizando uma amostragem mundial e uma segunda apenas com as presenças regionais.
O trabalho de campo permitiu-nos actualizar e melhorar o nosso conhecimento acerca da
infestação existente nos edifícios da cidade desde 2004. Foi-nos também possível estimar a
capacidade de voo da térmita C. brevis como sendo na ordem dos 100m.
O modelo de autómatos celulares foi aplicado de forma eficaz à cidade de Angra do
Heroísmo demonstrando que é possível importar o ambiente urbano para o ambiente virtual
do modelo. A característica estocástica do modelo não permitiu gerar uma dispersão
espacial assimétrica da praga, apenas utilizando um foco inicial de infestação. Desde que a
probabilidade de infestação não seja muito baixa, a evolução da praga é quase
determinística. O modelo, em conjunto com alguns dados de campo, sugere que a
infestação terá dispersado para áreas da cidade onde ainda não foi confirmada a presença
da espécie.
A utilização do modelo ecológico de máxima entropia permitiu a construção de diversos
mapas que demonstram a probabilidade de ocorrência desta térmita em cada ilha. Todas as
projecções são consistentes com uma significativa probabilidade de ocorrência da espécie
em todas as ilhas. No geral, esta probabilidade é mais elevada perto das zonas costeiras,
mais baixas, onde estão localizadas as principais localidades.
Os resultados apresentados contribuem para um melhor entendimento acerca da espécie
Cryptotermes brevis no arquipélago dos Açores. As ferramentas desenvolvidas e aplicadas
neste trabalho são um importante ponto de partida para futuras aplicações para estudar a
mesma espécie em outras cidades do arquipélago, ou mesmo para simular a dispersão de
outras espécies. O modelo com autómatos celulares, apesar do seu estado inicial,
demonstrou claramente que tem potencial para nos ajudar a entender a evolução espacial e
temporal da dispersão desta praga, ou mesmo de outras espécies. Os resultados obtidos
relativamente à probabilidade de ocorrência da espécie no arquipélago poderão ser
melhorados, desde que, seja disponibilizada informação climática mais completa. Estes
resultados indicam-nos que, sem medidas apropriadas, a situação actual poderá tornar-se
um sismo que silenciosamente afectará todas as ilhas Açorianas.
Centros de investigação que apoiam o mestrado