Mestrado em Gestão e Conservação da Natureza

... sobre o território comum, olhar a realidade de forma integral e de modo científico

Patrícia Alexandra Felismino da Silva

Aves nidificantes na freguesia de Casével (Santarém) - distribuição, abundância e relação com o uso do solo: contributos para a gestão do território

Orientadores:
  • Domingos Leitão
  • Luís Cancela da Fonseca

  • Dissertação disponível em: http://hdl.handle.net/10400.1/1936

    Resumo

    Os ecossistemas agrícolas correspondem ao uso do solo mais representado na Europa e também por outro lado, aos mais valiosos em termos de conservação da Natureza, principalmente para diversas espécies de aves que deles dependem. As mudanças nas práticas agrícolas reflectem-se em muitas espécies, sobretudo nas aves. Por isso, têm-se desenvolvido vários estudos envolvendo este grupo e a agricultura. À semelhança desses estudos, pretende-se com este trabalho relacionar a abundância e a diversidade das espécies de avifauna com o uso do solo, bem como conhecer a sua distribuição espacial, numa área agro-florestal do Concelho de Santarém (Casével). Casével é uma Freguesia marcadamente rural, com cerca de 3.300 ha, com povoamentos bastante dispersos, e cujas principais actividades assentam na agricultura e na pecuária. Cerca de 32,8% do uso do solo corresponde a áreas abertas utilizadas para as práticas agrícolas (sequeiro, regadio e pousio), enquanto que 19,2% é utilizada para área florestal. Desta, cerca de 10,6% corresponde a bosques de Quercus sp. (Carvalhal, Azinhal e Sobreiral), 5,4% a Eucaliptal e 3,2% a Pinhal. A restante área é ocupada com manchas de Olival (25,2%), Vinha (6,1%), Figueiral (5,4%), entre outros usos. Neste trabalho pretendeu-se estudar a diversidade da avifauna e conhecer a sua distribuição na área de estudo, relacionando-a com os diferentes tipos de habitat através de uma prévia cartografia do Uso do Solo, feita em Sistemas de Informação Geográfica (ArcView 3.1). Os censos da avifauna foram efectuados com base numa abordagem tipo “Atlas” cujas unidades de amostragens foram as quadrículas 1x1 (1km²), apoiadas no sistema U.T.M. (Universal Transverso de Mercator), resultando 36 quadrículas U.T.M. Para as aves de rapina foram realizados censos dirigidos e apenas para este grupo se usou um método quantitativo de modo a estimar os casais reprodutores. Para as outras espécies, os censos tiveram por base as abundâncias observadas em cada quadrícula, nas 4 amostragens. A par do descrito, procurou-se localizar as áreas com maior riqueza específica, bem como as mais sensíveis para a conservação da avifauna. Por último, espera-se contribuir de certa forma para o desenvolvimento local desta região apostando no seu património natural (Ecoturismo, BirdWatching, etc.) e nas práticas agrícolas agro-ambientais. Propõem-se também algumas medidas de gestão para esta área. Foram registadas 73 espécies distribuídas pelas 36 quadrículas da Freguesia de Casével, ocorrendo em média 32 espécies por quadrícula. As quadrículas com maior percentagem de Quercus sp. apresentaram maior diversidade avifaunística, bem como algumas quadrículas com carácter mais agrícola (searas de sequeiro, regadio e pousios). Pelo contrário, as quadrículas que apresentaram pouca diversidade de habitats e com uma maior percentagem de edificações humanas revelaram uma menor riqueza específica. Em relação às aves de rapina que ocorreram na área de estudo, o destaque vai para a Águiade- asa-redonda (Buteo buteo) que foi a mais comum, com cerca de 7 a 16 casais distribuídos essencialmente por áreas florestais (utilizadas para a nidificação), mas que ficavam próximas de zonas abertas (para procurarem as suas presas). Também o Milhafre-preto (Milvus migrans), com cerca de 1 a 8 casais, e a Águia-calçada (Aquila pennata), com 1 a 5 casais, utilizaram as mesmas áreas. Mas pelo contrário, tanto o Peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus), com 4 a 13 casais, como o Peneireiro-vulgar (Falco tinunculus), com 4 a 9 casais, preferiram as zonas agrícolas mais abertas para nidificar e procurar as suas presas. Foram também registadas 20 espécies com estatuto de conservação desfavorável em Portugal e/ou na Europa o que representa 27,4% das espécies encontradas na área de estudo, das quais 8 espécies estão incluídas no Anexo I da Directiva Aves (Caprimulgus europaeus, Burhinus oedicnemus, Elanus caeruleus, Aquila pennata, Ciconia ciconia, Lullula arborea e Alcedo atthis). O Noitibóeuropeu (Caprimulgus europaeus) e o Alcaravão (Burhinus oedicnemus) possuem ainda um estatuto de “Vulnerável” em Portugal. Verificou-se também que a maior parte destas espécies ocorreram em quadrículas com áreas florestais, essencialmente de Quercus sp. e áreas agrícolas, reforçando-se assim o seu interesse conservacionista. Logo, todos os esforços de gestão e conservação neste território deverão ter em consideração estas zonas agro-florestais. Até porque, em relação às zonas florestais verificou-se que existem alguns habitats listados na Directiva 92/43/CEE, como os Carvalhais ibéricos de Quercus faginea, Florestas de Quercus suber e Florestas de Quercus rotundifolia. No entanto, a grande maioria das áreas que possuem bosques e florestas de Quercus sp. são atravessadas por linhas de alta tensão, pelo que merecem ser alvo de medidas de monitorização do impacte que estas poderão ter sobre a avifauna. Para além disso, deve-se também promover a limpeza destes bosques para evitar a propagação de espécies invasoras e dos incêndios florestais. No que respeita à gestão das áreas agrícolas devem promover-se práticas “amigas” do ambiente, como as medidas agro-ambientais, protecção integrada, e outras que possam garantir a sustentabilidade deste ecossistema semi-natural em conformidade com a preservação dos valores naturais. Em Casével, tal como em muitas outras Freguesias rurais, assiste-se a um êxodo das populações mais jovens, e a um desinteresse da população pelo património natural e cultural da região que é, afinal o seu. Este estudo espera também, de alguma forma, contribuir para contrariar essa tendência e evidenciar o potencial que esta área poderá ter como fonte de atracção turística, nomeadamente para a realização de percursos pedestres e observação de aves. Espera poder também contribuir com alguns aspectos que poderão ajudar Casével a integrar a rede do Parque Arqueológico e Ambiental do Médio Tejo para as questões ambientais, dado que do ponto de vista cultural, a Freguesia já tem um forte potencial.

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